O que fazer com os animais de estimação, quando os donos morrem? E como lidar com o luto de humanos e pets?
O assunto de hoje não é algo leve, nem palatável, mas de extrema importância. Já estamos há mais de um ano lidando com diversas mortes próximas, principalmente em decorrência do novo coronavírus e todas as suas cepas.
No meu caso, as partidas que tenho acompanhado não são em decorrência de Covid-19, mas de outras causas, como o câncer. Uma das situações me chamou muita atenção por envolver cachorro. Será que o luto, ao perder um parente, é semelhante ao de perder um animal de estimação? E quando é o tutor que falece, como lidar com o pet que fica? Pets também vivenciam o luto? Como o luto de uma pessoa ou de uma família é tratado pela sociedade?
Quem opina sobre o assunto é a veterinária e terapeuta Dra. Melanie Marques, que nos últimos dias teve que passar pela perda de um de seus pets. “Recentemente perdi uma akita de 17 anos que nasceu em minha casa. Eu tinha 20 anos quando ela chegou, ou seja, convivi minha vida adulta inteira com ela. Quando comuniquei sua partida às pessoas, o que mais ouvi falar foram frases como ‘ah, mas já era velhinha, né?’, ‘isso logo passa e ficarão as boas lembranças’, e ‘ela parou de sofrer, está em lugar melhor que aqui.”
Foi ouvindo essas expressões típicas de situações de luto que Dra. Melanie lembrou da perda da mãe. “Ouvi basicamente as mesmas frases, e isso me confirma o quanto existe esta semelhança entre estes processos de luto”, compara.
Diante disso, Dra, Melanie pondera que dizer adeus a um companheiro de quatro patas pode sim ser levado tão a sério como a morte de um ente querido. “Rituais de passagem, como velar o corpinho, se despedir, homenagear a vida daquele que dedicou sua vida a amar e brincar com seu tutor aqui na terra pode minimizar a dor, dando um espaço para a morte ser compreendida e um tempo para ser elaborada pela família. Inclusive as fases do luto, como negação, raiva, aceitação, por exemplo, são completamente normais quando se refere a perda de um animal”.
Pode parecer reducionista essa visão, ou até desdenhar a dor de quem perdeu um parente querido. Mas é importante olharmos com empatia para todos que estão sofrendo nesse momento. Inclusivo o pet que perdeu seu tutor.
Com a morte da mãe, Fernanda (nome fictício, em respeito à privacidade do enlutado) se viu na obrigação de cuidar da cachorrinha Frida. A pequena cadela chegou à casa quando Fernanda ainda era criança. Após seu casamento, ficou acordado que sua mãe continuaria cuidando da Frida. Agora, sem a mãe para cuidar, Fernanda teve que decidir o que fazer com a Frida. Levar para morar em sua casa poderia colocar a saúde da cadela em risco, já que ficaria longas horas sozinha. Deixar com um de seus irmãos também não parecia certo. Assim, a decisão foi manter Frida da casa da mãe com uma cuidadora.
Apesar de estar na mesma casa em que viveu seus 17 anos, Frida não é mais a mesma após a morte de sua tutora. Ela é a prova que cães também vivenciam o luto. Nos primeiros dias, Frida pouco se interessou pela bolinha ou correr pela casa. Buscava o quarto da tutora para deitar. Mas a medida que os dias passaram, Frida voltou a sua rotina de sempre. Apenas de bem menos animada.
Infelizmente nem todos os pets têm a sorte de poder ficar na casa, como a Frida. As ONGs e abrigos não têm mais espaço para receber demandas como essa. Assim, muitos parentes, sem saber o que fazer com o animal, após a morte do tutor, acabam doando ou até abandonando o pet.
Foi pensando nisso que a empresária Diana Bueno criou a Pet Assist. Como uma forma de evitar maus tratos e abandono de pets que perdem os seus tutores. A solução nasceu a partir de um trabalho voluntário que Diana fazia em uma ONG de cães, ao constatar que a morte de tutores era uma das causas de abandono. A empresa terá a custódia do animal e garantirá um novo lar personalizado para o pet, por toda a vida.
Após a contratação, o tutor tem acesso a um sistema onde irá colocar todas as informações sobre o pet para que os mesmos cuidados sejam replicados, sempre que possível, caso necessário, da ração que o pet come, brinquedos e brincadeiras prediletas à informação sobre cuidados veterinários.
Na composição da solução, além de um seguro de vida do tutor, que cobre inclusive morte por Covid-19 e é o que irá garantir o sustento do pet com a empresa, há assistências com serviços que o tutor pode utilizar no dia a dia. O tutor pode escolher entre orientação veterinária e comportamental remota e serviços emergenciais como consulta veterinária, cirurgia, transporte, hospedagem, sepultamento ou cremação individual e outros.
Diana comenta que a situação do abandono de pets se agravou com a pandemia, porque além do aumento do número de mortes de tutores em função da Covid-19, a questão financeira passou a ser outro ponto crítico. Garantir a proteção, a qualidade de vida e o futuro dos nossos filhos de quatro patas é fundamental para dormirmos tranquilos.
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